Medeia

2006
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Assassinato, carnificina, crueldade, sofrimento, humilhação, engano, lascívia, fúria, desespero, vingança e tragédia são alguns dos ingredientes desta comédia negra de arrepiante hediondez representada pela Companhia Paulo Ribeiro e pela Companhia do Chapitô neste (re)contar do conhecido mito Grego._________________________________________________________________________

Quatro actores, com a ajuda de uma escadaria recheada dos mais variados adereços, dão vida às várias personagens de “Medeia”, de Eurípides. Trata-se de uma co-produção da Companhia Paulo Ribeiro e da Companhia do Chapitô, com apoio do Teatro Viriato, de Viseu. “Brincámos com `Medeia`, porque Eurípides não escreveu propriamente uma comédia”, justificou o encenador. Ainda que não considere o texto do poeta trágico grego totalmente desactualizado, John Mowat explicou ter sido necessário fazer “a actualização de algumas referências”, pondo, por exemplo, as personagens a fumar em determinadas cenas.  Tudo começa a partir do momento em que, depois de ter destituído e assassinado o seu meio-irmão para se tornar rei, Pélias de Ioclos manda o seu sobrinho, Jasão, para o reino de Eetes em Cólquida, com a incumbência de realizar uma tarefa aparentemente impossível: “regressar com o velo de ouro”. A filha de Eetes, Medeia, apaixona-se por Jasão, ajuda-o nessa tarefa e vão ambos para Ioclos, mas, mesmo assim, o seu tio recusa-se a ceder-lhe o trono. Depois de concretizada a ideia de Medeia de “cozinhar” o Rei Pélias, o casal muda-se para Corinto, onde teve dois filhos, mas Jasão apaixona-se pela filha do Rei Creonte. O espectáculo culmina com a maquiavélica Medeia a matar a rival e o Rei e os próprios filhos, fugindo depois para o santuário de Atenas, onde casa com o Rei Egeu, a quem tinha conseguido curar um problema de impotência sexual. Mesmo os episódios mais trágicos do espectáculo foram transformados em momentos de comédia, nomeadamente quando Medeia serra o seu irmão em pedaços, espalhando-os pelo caminho para distrair o pai, ou quando mata os filhos. Vários elementos contribuem para a boa disposição, como o extintor que nunca funciona na hora certa, uma fonte interpretada por Marta Cerqueira que deita um fio de água da boca para uma taça ou os modernos óculos de sol do Rei Egeu. Em cima da cabeça dos actores, um livro, um martelo, um sapato ou uma sandália permitem aos espectadores aperceberem-se de que personagem se trata. Leonor Keil e Marta Cerqueira, da companhia de dança contemporânea Paulo Ribeiro, e Jorge Cruz e José Carlos Garcia, da Companhia do Chapitô, escolheram como “parceira” uma escadaria, inspirada na que permite subir habitualmente para o palco do Teatro Viriato, mas “artilhada” com os vários objectos de que necessitam durante os 60 minutos de espectáculo. Segundo Leonor Keil, a ideia surgiu graças ao facto de os actores terem podido usar o palco do Teatro Viriato durante três semanas. “Começámos a brincar com as escadas e, de repente, dissemos: `elas têm de ficar, sem elas não conseguimos fazer a `Medeia`”, contou, acrescentando que foram construídas uma idênticas às existentes, mas com gavetas. É atrás das escadas que ocorrem muitos dos momentos do espectáculo, o que leva a bailarina a gracejar que poderia ser encenado uma “Medeia II”, mostrando ao público o lado agora ocultado.

 

 

 

Créditos

Criação Colectiva

Encenação: John Mowat
Interpretação: Leonor Keil, Jorge Cruz, José Carlos Garcia, Marta Cerqueira
Co-Produção: Companhia Paulo Ribeiro, Companhia Do Chapitô, Teatro Viriato
Assistência de Ensaios: Alice Cravo
Cenário: Nelson Almeida
Desenho de Luz: Pedro Teixeira, Paulo Cunha

Fotografia: Jorge Gonçalves, Tiago Frazão
Textos: Patrícia Maio
Design Gráfico: Pedro Bacelar, Sílvio Rosado
Produção Companhia Paulo Ribeiro: Albino Moura, Sandra Correia
Produção Companhia do Chapitô: Tânia Melo, Germana Cruz
Assessoria de Imprensa: Sofia Lourenço

Críticas

  • "… É mais uma experiência de riso, até às lágrimas, através do recurso ao teatro físico....Aqui, o que se trata é mesmo do registo inteligente, mesmo que desvairado. Próximo do burlesco de tal modo que quase roça o pornográfico, num sentido humorístico e na medida exacta do ridículo exagerado que não perde o bom gosto. Mesmo nas piadas descaradamente sexuais, é uma grosseria extraordinariamente bem executada."

    Cláudia Galhos
    Expresso